quarta-feira, 24 de abril de 2024

O JOGO ESQUECIDO

Em Lisboa tinha havido empate. Para passar à final da Taça dos Vencedores de Taças, o Sporting não podia perder em Magdeburgo. Seria um regresso à final da competição, uma década depois da vitória em Bruxelas.

No final da tarde de 24 de abril juntámo-nos todos à volta do His Master's Voice a preto e branco para ver o jogo. A 20 minutos do fim, o Sporting perdia por 2-0, sem que o Magdeburgo tivesse jogado nada de especial. A 12 minutos do fim, Marinho reduziu para 2-1. Quase de seguida, Tomé falhou, inacreditavelmente, o empate (é esse desalento que a fotografia mostra). Os alemães estavam de gatas. Deu-se então uma parte gaga. Isto para que não digam que os latinos é que são "fiteiros"... Um alemão simulou uma lesão. Entra o massagista do Magdeburgo. Aquilo prolonga-se por uns minutos. Quando vai de regresso em direção à linha lateral, o massagista abre, "acidentalmente", a mala. Espalha-se pelo relvado todo o seu conteúdo, uma mistura de frascos e frasquinhos, que toda a gente ajuda a apanhar. Aqueles momentos quebraram o ritmo, de total domínio, do Sporting. Com a ajuda de um pequeno golpe de teatro, a Magdeburgo passava à final...

No dia seguinte, tudo isto deveria dar manchetes nos joirnais. Não deu. Porque o outro dia foi o que se sabe.


terça-feira, 23 de abril de 2024

DEPOIS DO HERRI BATASUNA

A entrada do Herri Batasuna foi o principio de uma enorme "animação". Armou-se "la marimorena". Gritos, boicotes, expulsões etc. Isso durou até junho de 2005, quando o Herri Batasuna foi ilegalizado. Surgiu depois o Eukal Herria Bildu, próximo do separatismo mas mais moderado e abrangente. No passado domingo, houve um pequeno "susto". O futuro é cada vez menos previsível...

Dos três eleitos em 1979, Telesforo Monzón (1904-1981), Francisco Letamendía (n. 1944) e Pedro Solabarría (1930-2015) apenas Letamendía está vivo. Que diria o trio nesta altura?


domingo, 21 de abril de 2024

UM DIA INESQUECÍVEL

Não tenho muitos dias assim, numa carreira profissional com quase 40 anos.

Foi um prazer enorme, e uma emoção difícil de traduzir em palavras, ver o Panteão Nacional completamente cheio na celebração dos 10 anos do cante alentejano como Património da Humanidade.

Por ali passaram, por ordem de atuação:

Grupo Coral Infantil da Escola do Sete e Meio (Moura)

Grupo Coral e Etnográfico "Os Camponeses de Pias" (Pias)

Grupo Coral e Etnográfico "Cantares de Évora" (Évora)

Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa (Serpa)

Grupo Coral da Sociedade Recreativa Amarelejense (Amareleja)

Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento (Vila Nova de São Bento)

Grandes vozes e grande presença. Um grande final, com os grupos todos cantando, em conjunto, o "Alentejo! Alentejo!".

Depois, foi mesmo uma festa, cantando Alfama abaixo até à sede do Grupo Sportivo Adicense, onde foi o lanche. E ainda aquela nota fantástica do Rancho de Cantadores ter homenageado um casal de senhoras que acabara de casar.


Fotografia: "A Planície"








BARTOLOMEU COSTA CABRAL (1929-2024)

Foi uma carreira longa e perfeitamente realizada, a de Bartolomeu Costa Cabral, que ontem faleceu. Foram muitos os projetos, os prémios, é consensual o reconhecimento dos pares.

Aqui o recordo porque precisamente dentro de um mês vai ser apresentado um livro que tem uma obra sua: a agência de Caixa Geral de Depósitos de Sintra (1978).


sábado, 20 de abril de 2024

NÃO FOSSEM OS MANDATOS DA CDU...

E não teria havido:

* A obra da Mouraria;

* A casa dos poços;

* O Museu Gordillo;

* A reabilitação da Torre de Menagem;

* O jardim das oliveiras;

Ou seja, os jornalistas da "Visão" viriam a Moura ter visões.

Nos últimos sete anos, o que se criou, a este nível, em termos de reabilitação urbana? ZERO.


quinta-feira, 18 de abril de 2024

ASTON VILLA

Tenho seguido, com interesse, a carreira do Aston Villa. Têm duas finais europeias no currículo. Desde há 41 anos, nada mais. Este ano estão nas meias-finais da Conference League. Aposto que chegam à terceira final. O treinador? Unai Emery, o que ganhou quatro Ligas Europa. Mais um acaso, com toda a certeza...

quarta-feira, 17 de abril de 2024

CONCERTO DE AVES

sabes, as aves aquáticas já não pernoitam junto ao mar nem por entre os nossos dedos de areia
sobem-nos vozes calcárias à garganta, estrangulo-me neste humilde canto, fico atento ao eterno silêncio do teu castelo

às vezes escuto o teu cantar, raramente, é certo...mas quando cantas saem-te nomes puros da boca e sorrisos diáfanos de cristais
os lábios incendeiam-se com vinho, teu corpo adquire o sabor misterioso das algas
no crepúsculo expande-se o perfume a moreia frita, teu olhar é o mosto dos nossos desejos

dançamos à roda dum mastro, saia em papel de seda bordada com búzios...uma quadra flutua pela noite de nossos cabelos
rodopias, e os teus amores são relembrados pela noite adiante
espalham-se estrelas cadentes, papoulas breves, junco molhado e o mar enche-se novamente de pássaros, embarcações semelhantes a beijos que nos percorrem de alegria

Uma recente "visão" do Concerto de aves, de Frans Snyders, que está no Museu do Prado, levou-me a Al Berto. Uma maneira diferente para terminar uma quarta-feira agitada.

terça-feira, 16 de abril de 2024

O JOÃO OLIVEIRA! O JOÃO OLIVEIRA É QUE É!!! QUAL JOÃO OLIVEIRA???

O João Oliveira anda, desde há umas semanas, desaparecido dos media. Quando não era candidato "ele é que era", "ele é que devia ser", "o vosso camarada João Oliveira é melhor que o Raimundo e que os outros todos", "vocês têm sempre os mesmos, o João Oliveira é que era!". Por sinal, o cabeça de lista ao Parlamento Europeu é o João Oliveira. Não a pedido, claro, mas por ser o camarada que reúne melhores condições. Subitamente, o João Oliveira sofreu um eclipse. Ou melhor, fala-se é do seu homónimo do Big Brother...

Só a muito custo veremos o João Oliveira nas televisões e nos jornais nas próximas semanas. Mas o João Oliveira é que era... Se fosse ele...


segunda-feira, 15 de abril de 2024

CANTE ALENTEJANO, VOZ E SANTA ENGRÁCIA

O cante alentejano no Panteão Nacional. Porque o Dia da Voz é, também, o Dia de Santa Engrácia. Dia 20, às 17 horas, com entrada livre.

Seis grupos de outras tantas localidades: Amareleja, Évora, Moura, Pias, Serpa e Vila Nova de S. Bento.


ESTA VIDA DAS AUTARQUIAS ESTÁ A DAR CABO DE MIM, RAPARAPARAPARAPARAPARAPARIM

Este é um desafio e tanto. A experiência de ex-autarca e de diretor de um monumento nacional. É sobre isto que os moços querem que eu vá falar. E da forma como vejo a responsabilidade cívica, que cabe a cada um de nós.

Então vamos a isso, num sessão (para mim) inédita, ante uma plateia de alunos de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra. A terra pode não tremer. Já eu 🙂...

domingo, 14 de abril de 2024

MANHÃ ÁUREA

Foram mais de quatro quilómetros entre a subida e a descida. Um percurso habitual, mostrando aos alunos, ao vivo. o que se faz e como se faz a integração do património arqueológico no quotidiano de uma cidade.

O Aurea Museum Hotel alberga uma dessas experiências. Passagem obrigatória pelo excecionla Teatro Romano de Lisboa. E pelo Castelo de S. Jorge.


sábado, 13 de abril de 2024

MOURA - 25 DE ABRIL? QUAL 25 DE ABRIL?

Com exceção de uma atividade do Museu Municipal, o programa dos 50 anos do 25 de abril promovido pelo Município em nada se afasta do que foi feito em anos anteriores. E um cinquentenário não deveria uma qualquer e banal celebração.

Nem uma reflexão digna desse nome.

Nem uma exposição.

Nem uma explicação do que era o concelho durante o Estado Novo.

Bem entendido, uma proposta feita pelo PCP no âmbito da Assembleia Municipal foi rejeitada.

Nada sobre o quotidiano das populações, nem sobre a falta de liberdade, nem sobre a polícia política. Nada de nada.

O pior de tudo, como diz um amigo meu, a propósito da gestão autárquica em Moura? É a banalização da mediocridade.


sexta-feira, 12 de abril de 2024

TUDO POR ACASO, CLARO...

São 21 títulos ao serviço de seis clubes em três continentes (Braga, Benfica, Sporting, Al-Hilal, Flamengo e Fenerbahçe). Isto foi tudo por acaso, claro...

Excelentes mesmo são aqueles que nunca ganham nada.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

O PANTEÃO NA EUROVISÃO (RIMA E É VERDADE)

A cantora iolanda escolheu o Panteão Nacional para o seu vídeo promocional para a campanha de Malmö.

A gravação teve lugar há umas semanas. Respeitámos, claro, o compromisso de não revelar esta iniciativa. "Estamos" na Eurovisão pelo segundo ano consecutivo. Uma visibilidade que me/nos agrada.


quarta-feira, 10 de abril de 2024

É UMA VEZ UM MUSEU

Visita, ao final da tarde, com os alunos dos mestrados em Arqueologia e em Património da NOVA - FCSH, ao Museu Nacional de Arqueologia. Um percurso fundamental para se perceber o antes, o durante e o depois de uma intervenção de grande gabarito. O museu está aberto para obras.

Foi também o momento para rever/recordar detalhes da minha primeira visita ao museu, no início de 1974...









terça-feira, 9 de abril de 2024

CORO DOS EMPREGADOS DA CÂMARA

É tão vazia a nossa vida,

é tão inútil a nossa vida
que a gente veste de escuro
como se andasse de luto.
Ao menos se alguém morresse
e esse alguém fosse um de nós
e esse um de nós fosse eu…


… O Sol andando lá fora,
fazendo lume nos vidros,
chegando carros ao largo
com gente que vem de fora
(quem será que vem de fora?)
e a gente pràqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados pràs secretárias
fazendo letra bonita.

Fazendo letra bonita
e o vento andando lá fora,
rumorejando nas árvores,
levando nuvens pelo céu,
trazendo um grito da rua
(quem seria que gritou?)
e a gente pràqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados pràs secretárias
fazendo letra bonita,
enchendo impressos, impressos,
livros, livros, folhas soltas,
carimbando, pondo selos,
bocejando, bocejando,
bocejando.
Manuel da Fonseca


segunda-feira, 8 de abril de 2024

HOPKINS E O PASSAR DO TEMPO

Se não foi o melhor trabalho que alguma vez vi no cinema anda muito perto disso. Refiro-me ao desempenho de Anthony Hopkins em O pai. Talvez há uns anos achasse esse desempenho extraordinário. Agora é um pouco mais do que isso. Fica-se, pessoalmente, entre o desconforto e a incerteza.

domingo, 7 de abril de 2024

ALFERRAREDE HOPPERIANO

Pintura de Maria Lucília Moita (1928-2011) no MIAA - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte. A estação de caminho de ferro de Alferrarede, em 1959, num registo um pouco hopperiano.

O MIAA, no antigo Convento de São Domingos, reabilitado com projeto de Carrilho da Graça, foi Museu do Ano em 2023.

sábado, 6 de abril de 2024

PANTEÃO ABRANTINO

Dá-se um passinho fora de casa e a primeira coisa que encontramos é... um panteão. Onde? No Castelo de Abrantes.

A igreja (Santa Maria do Castelo) é muito bonita e o projeto de recuperação é mesmo muito bom. Já o projeto museográfico me deixou sérias reservas, por ser demasiado intrusivo, precisamente o que não queria ser...

O Panteão é o da família Almeida, outrora poderosíssima, "aquém e além mar".


sexta-feira, 5 de abril de 2024

CONGELAMENTO

Deveria ter sido aos 46 anos, 9 meses e 7 dias. Em março de 2009 deveria ter chegado ao topo da carreira na Administração Pública. Graças aos governos do PS  e do PSD (a quem mui humildemente agradeço terem-me empatado a vida), esse posto foi atrasado 13 anos, 9 meses e 21 dias. No meio disto, houve carnavaladas como o SIADAP (ainda dura...), e houve o PRACE e o PREMAC etc.. E firmou-se-me uma certeza: os que vão gerir a administração pública não gostam da administração pública. Nem dos funcionários públicos.

Bom, agora já está. A paisagem de inverno, como esta de Caspar David Friedrich, já lá vai...

ÁLVARO FIALHO EM ENTRECAMPOS

Eram 22:50 e ia de saída do restaurante. É sítio onde fui "um par de vezes". Subitamente, olhei para um conjunto de quadros. Que me são mais que familiares. Mas nunca tinha reparado na serigrafia do lado direito. "É uma homenagem a Zeca Afonso", esclareceu o dono do restaurante. "Não me leve a mal", esclareci, "mas é uma serigrafia feita pela Câmara de Moura, em 1987. O tema é a feira". E adiantei, para o amigo com quem fui jantar, o nome dos três promotores da iniciativa (edição de livro e publicação da serigrafia): Matos Pereira, António Galvão e Jorge Pelica.

Álvaro Fialho, presente num restaurante em Entrecampos.




quinta-feira, 4 de abril de 2024

BABILÓNIA TOPONÍMICA: UMA RUA COM QUATRO NÚMEROS CINCO

O número da porta é o cinco. Lote cinco, para ser mais preciso. Usei o GPS. A rua era longa. Íamos no 73, depois apareceu um cruzamento, depois a rua passou para o número um. Mau maria. Avancei um pouco. Chegámos a um número cinco. Mas a casa não coincidia com a descrição. Avançámos mais um pouco. Encontrámos um lote cinco. Não, também não era aquele. Telefonámos à dona da casa. Disse para irmos em sentido contrário. Quando a rua estava, de novo, quase a terminar encontrámos outro número cinco. E vão três. Parei o carro. Toca o telefone "não é aí, eu estou-vos a ver, avancem mais uns metros; isso aí é o número cinco. A minha casa é o lote cinco".

Ou seja, a bendita rua tem quatro números cinco. Uma coisa borgesiana. Ou tarantiniana.


quarta-feira, 3 de abril de 2024

RUA DE SÃO MIGUEL

Estava a ler um texto sobre os trabalhos fotográficos do brasileiro Alécio de Andrade (1938-2003) quando parei numa fotografia: "Rua de São Miguel, Alfama, verão de 1974". Isto é mesmo ao lado do Panteão, pensei. São 500 metros, o que quer dizer que é "mesmo ao lado". Depois, assaltou-me uma dúvida "como é que aquilo estará?". Não foi difícil encontrar o sítio, porque o número de polícia se identifica numa porta.

Bom, e sem mais comentários, 50 anos volvidos está assim:


terça-feira, 2 de abril de 2024

ERA UMA VEZ O FASCISMO

Poupem-me, por favor!

Não digam à minha frente que “regredimos” nos últimos 50 anos. Porque não é verdade. Porque é um argumento que não tem ponta por onde se lhe pegue. Infelizmente, o desconhecimento, a ignorância e a falta de escrúpulos são terreno fértil para os oportunistas mais descarados e sem pingo de vergonha. Vamos a números (oficiais):

 

Taxa de analfabetismo

1971 – 26%

2021 – 3%

 

Despesa do Estado com a Saúde

1970 – 2,4% do produto interno bruto

2020 – 10,6% do produto interno bruto

 

Médicos por 100.000 habitantes

1970 – 94

2021 – 564 (seis vezes mais)

 

Bibliotecas municipais

1974 – 66 (não incluindo Rede Gulbenkian, que era de iniciativa privada)

2021 – 303

 

Estabelecimentos de ensino básico 2º. e 3º ciclos e secundário

1971 – 1833

2021 – 3587

 

Número de estudantes no ensino superior

1971 – 49.500

2021 – 433.000

 

Taxa de mortalidade infantil

1971 – 52 por mil

2021 – 4 por mil

 

Esperança de vida

1971 – 66 anos

2021 – 82 anos

 

Taxa de cobertura de esgotos (redes ao domicílio)

1971 – 17%

2021 – 86%

 

Taxa de cobertura de rede de águas ao domicílio

1971 – 40%

2021 – 96%

Num curto espaço de tempo, entre 1975 e 1990, os níveis de atendimento da população com serviços de águas e esgotos passam de 40% e 17%, respetivamente, para 80% e 62%.

 

Poderíamos continuar: poderia falar do número de gimnodesportivos, da prática desportiva, dos equipamentos culturais, do ensino da música, da investigação científica, da qualidade das publicações universitárias, do papel do poder autárquico em todo este processo etc. etc. Poderia falar, e detalhar, a melhoria das condições de vida das pessoas. Em resumo, Portugal deixou de ser o cantinho provinciano e atrasado da Europa para passar a ser um País desenvolvido. Com muito para corrigir e para melhorar? Certamente que sim, mas não por aqueles que dizem que “regredimos” e que representam o desejo de regresso ao passado.

 

Viva o 25 de abril!

Viva a Democracia!

Viva a Liberdade!


Crónica publicada em "A Planície"


segunda-feira, 1 de abril de 2024

JUDOCAS PORTUGUESES

No outro dia, um parolo facho declarava, solenemente, no twitter, "um africano não é um português". Jorge Fonseca nasceu em São Tomé e Príncipe. Presumo que a família de Tais Pina tenha raízes em África. São portugueses, de origem africana. Isto deve ser complicado de explicar ao parolo facho.



DIA 1097

Faz hoje três anos que iniciei funções como Diretor do Panteão Nacional. Hoje é o dia 1097 neste percurso. Um lugar na minha vida que me pareceria "improvável" há uns anos. Agora, é o local que me toma o quotidiano e onde (um velho e não muito bom hábito...), passo mais tempo que em qualquer outro sítio.

Amanhã é o dia 1098.

domingo, 31 de março de 2024

TODOS OS DIAS PENSO NISTO...

Ligo o carro de manhã e aquilo é só mensagens eletrónicas à direita e à esquerda. O painel à frente do volante parece uma árvore de natal com tanta luzinha.

Depois, entra em funcionamento a máquina do tempo. Regresso ao carocha amarelo. De Moura a Madrid, 15 ou 16 horas de viagem. Os vidros de trás não abriam. Não havia ar condicionado. Só havia cintos de segurança à frente. Só havia quatro velocidades. Quando chegava aos 120 trepidava por todos os lados, e parecia que ia levantar voo. A suspensão era de trator. O conforto era nulo. Caramba, que saudades do carocha amarelo!


BRASIL - 31.03.1964

Faz hoje 60 anos. Militares de extrema-direita desencadearam um golpe, depuseram o presidente João Goulart e deram início a uma ditadura, sem lei nem roque, que durou mais de duas décadas. Muitos assassinatos ficaram impunes.

Convirá recordar o papel ativo da CIA e do governo dos Estados Unidos - os da dimócrassi e iuman ráites - neste golpe.

sábado, 30 de março de 2024

OS NOVOS AVIÕES DE FABRICO SOVIÉTICO

Li isto na quinta à tarde. Lembrei-me dos tempos da Guerra Fria. Quando havia um acidente aéreo com um avião construído "no outro lado" lá vinha a informação "caiu um Tupolev, de fabrico soviético". Agora, com a série de azares, o ónus passou a ter uma marca: "avião Boeing". É a vida.


sexta-feira, 29 de março de 2024

MARCEJANDO

"Está marcejando", dizia a minha avó Joaquina do Ó Ferreira (1909-1975), quando o tempo estava assim, de chuva e sol alternado. Era a sua tradução de um conhecido ditado popular. Imagino, mas não mais que isso, que poderá ser um localismo da Amareleja. Será? Em todo o caso, o verbo marcejar existe, com este preciso sentido, na língua catalã.

A PASTA DA CULTURA

Não é muito frequente os governos de direita terem ministério da cultura. Agora a pasta vai caber a Dalila Rodrigues, até aqui diretora do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém.

É bom haver ministério nesta área. Também é bom que seja alguém que conhece o setor a ter a pasta. O resto se verá. Ou, como dizia um jogador de futebol, "prognósticos só no fim do jogo".

quinta-feira, 28 de março de 2024

DA MÚSICA ÀS PALAVRAS

Entre domingo e ontem tivemos a 11ª. e 12ª. iniciativa de 2024. Como em anos anteriores, a média é uma coisa por semana. No domingo, houve o espetáculo com o Quarteto de Clarinetes de Lisboa. Onde, foi uma conversa a dois mais um. Francisco Moita Flores e Luís Afonso foram contar o que é escrever sobre a morte.

Em abril haverá mais. E haverá iniciativas diferentes. Há que evitar a letal rotina...

quarta-feira, 27 de março de 2024

PANTEÃO GUINEENSE

A fotografia deve ter quase 15 anos. Fi-la no Forte da Amura, onde está sepultado Amílcar Cabral. Gosto de Bissau e gosto da Guiné-Bissau. Duas idas lá foram mais que suficientes para fixar essa convicção. Gostaria de voltar, bem entendido.

terça-feira, 26 de março de 2024

LISBOA ISLÂMICA: um "fail" com um lustro

Faz agora cinco anos (o tal lustro) trabalhava eu no projeto de uma exposição sobre a Lisboa Islâmica. Iria ser no Mercado do Forno do Tijolo. Só que, depois, com o pretexto de que o projeto da Casa da Diversidade, promovida pela Junta de Freguesia de Arroios, ia mesmo arrancar, a ideia foi "vetada" para aquele local. Já havia guião e uma ideia de como iria funcionar. Ingénuo como sou, achei que a exposição iria mesmo em frente. Percebi, muito mais tarde, as razões do falhanço...

Não houve exposição.

Não houve Casa da Diversidade.

A presidência da Junta de Arroios mudou. A presidência da Câmara de Lisboa mudou.

Vi, no outro dia, que está lá uma exposição promovida pela Ephemera. Valha-nos isso! Um lustro volvido regressarei ao Mercado do Forno do Tijolo.





segunda-feira, 25 de março de 2024

GRÉCIA

Hoje é o Dia Nacional de Grécia. Uma edição recente de poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, com traduções de Nikos Pratsinis, foi a minha evocação ao início da tarde de ontem. Um dia sob o signo do azul helénico.























ÍTACA

Quando as luzes da noite se reflectirem imóveis nas águas verdes de Brindisi

Deixarás o cais confuso onde se agitam palavras passos remos e guindastes

A alegria estará em ti acesa como um fruto

Irás à proa entre os negrumes da noite

Sem nenhum vento sem nenhuma brisasó um sussurrar de búzio no silêncio

Mas pelo súbito balanço pressentirás os cabos

Quando o barco rolar na escuridão fechada

Estarás perdida no interior da noite no respirar do mar

Porque esta é a vigília de um segundo nascimento

O sol rente ao mar te acordará no intenso azul

Subirás devagar como os ressuscitados

Terás recuperado o teu selo a tua sabedoria inicial

Emergirás confirmada e reunida

Espantada e jovem como as estátuas arcaicas

Com os gestos enrolados ainda nas dobras do teu manto



ΙΘΑΚΗ

Όταν τα φώτα της νύχτας θα αντιφεγγίζουν ασάλευτα

στα πράσινα νερά στο Μπρίντιζι

Θα αφήσεις την ταραγμένη προβλήτα με το πηγαινέλα

από λέξεις, βήματα, κουπιά και γερανούς

Η χαρά θα ανάβει μέσα σου σαν καρπός

Θα πας στην πλώρη ανάμεσα στα μαύρα σκοτάδια της νύχτας

Δίχως κανέναν άνεμο δίχως καμία αύρα μονάχα ένα ψιθύρισμα

από το κοχύλι στη σιωπή

Όμως από το απότομο λίκνισμα θα μαντέψεις τους κάβους

Όταν το καράβι γλιστρήσει στην επτασφράγιστη σκοτεινιά

Θα είσαι χαμένη στο εσωτερικό της νύχτας στην ανάσα της θάλασσας

Γιατί αυτή είναι η ξαγρύπνια μιας δεύτερης γέννησης

Ο ήλιος ξυστά στη θάλασσα θα σε ξυπνήσει στο απέραντο γαλάζιο

Θα ανεβείς αργά σαν τους αναστημένους

Θα έχεις ανακτήσει αυτό που σε διακρίνει και την αρχική σου σοφία

Θα αναδυθείς επιβεβαιωμένη και συμφιλιωμένη

Ξαφνιασμένη και νέα σαν τα αρχαϊκά αγάλματα

Με τις χειρονομίες μπλεγμένες ακόμη στις πτυχές του μεγάλου

σου πέπλου